Frida Kahlo e Florbela Espanca: sobre as dores ocultas da alma
A coluna quebrada, Frida Kahlo, 1944.
A minha Dor
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...
(Florbela Espanca em "Livro de Mágoas, 1919)
What the water gave me, Frida Kahlo, 1938
Lágrimas Ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em era q´rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lado
O meu rosto monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
(Florbela Espanca em "Livro de Mágoas", 1919)
O pessimismo, a dor, e a tristeza, são temas recorrentes tanto na obra da pintora mexicana Frida Kahlo, como também na obra da poetisa portuguesa Florbela Espanca. Suas trajetórias de vidas foram marcadas sobretudo por profundos traumas, acidentes, mortes, que se mostravam na arte desenvolvida por elas, seja a partir de imagens visuais, ou através de versos.
Em um livro de memórias, Frida Kahlo escreve "Eu bebi para afogar a minha dor, mas a dor maldita aprendeu a nadar". O que vemos na pintura What the water gave me, toda a água na banheira, imagens de pessoas, plantas, e de uma torre dentro de um vulcão, é a representação da dor pela artista, a partir de lembranças de sua própria vida. Tudo o que ela queria esquecer, mas que em certo momento tomou uma proporção muito maior do que ela mesma. No soneto de Florbela, as lágrimas brotam e caem dentro da alma, na pintura de Frida, as lágrimas, a dor, a submergem, ainda que ninguém esteja vendo.
A banda britânica Florence and the Machine compôs uma música, inspirada na pintura de Frida. A seguir, o link do videoclipe da canção, que tem o mesmo título da pintura, What the water gave me:
https://www.youtube.com/watch?v=am6rArVPip8
O pessimismo, a dor, e a tristeza, são temas recorrentes tanto na obra da pintora mexicana Frida Kahlo, como também na obra da poetisa portuguesa Florbela Espanca. Suas trajetórias de vidas foram marcadas sobretudo por profundos traumas, acidentes, mortes, que se mostravam na arte desenvolvida por elas, seja a partir de imagens visuais, ou através de versos.
Em um livro de memórias, Frida Kahlo escreve "Eu bebi para afogar a minha dor, mas a dor maldita aprendeu a nadar". O que vemos na pintura What the water gave me, toda a água na banheira, imagens de pessoas, plantas, e de uma torre dentro de um vulcão, é a representação da dor pela artista, a partir de lembranças de sua própria vida. Tudo o que ela queria esquecer, mas que em certo momento tomou uma proporção muito maior do que ela mesma. No soneto de Florbela, as lágrimas brotam e caem dentro da alma, na pintura de Frida, as lágrimas, a dor, a submergem, ainda que ninguém esteja vendo.
A banda britânica Florence and the Machine compôs uma música, inspirada na pintura de Frida. A seguir, o link do videoclipe da canção, que tem o mesmo título da pintura, What the water gave me:
https://www.youtube.com/watch?v=am6rArVPip8
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